Poucas vezes a expressão “terra sem lei” pôde ser aplicada de forma
tão correta como nas cidades de Macaparana e São Vicente Férrer, na Zona
da Mata Norte, durante a madrugada de ontem. Um grupo formado por 15
homens fez a população dos dois municípios viver duas horas de pânico,
tempo em que explodiram uma agência bancária, roubaram dinheiro,
metralharam casas de moradores e carros da polícia, além de bloquear os
acessos aos dois municípios.
A noite do terror começou, pontualmente, às 23h30 da terça-feira,
quando os assaltantes metralharam as duas viaturas policiais que servem à
cidade de São Vicente Férrer. O casa onde funciona o destacamento da
Polícia Militar também foi atingida por vários disparos.
O grupo então seguiu para Macaparana, a seis quilômetros de
distância, não sem antes deixar grampos espalhados pela PE-089, que liga
as duas cidades. Com isso, as viaturas de outras cidades, como Machados
e Bom Jardim, teriam os pneus furados, como aconteceu com vários
motoristas que circulavam pelo local.
Em Macaparana, o bando fechou, com os próprios carros, a Travessa
João Francisco, no Centro, onde fica a agência do Banco do Brasil. A
porta de vidro do local foi quebrada com um extintor de incêndio. Parte
do grupo ficou do lado de fora, abrindo a marretadas um buraco na
parede, enquanto outra colocava os explosivos dentro do cofre.
A detonação foi tão forte que a porta do dispositivo voou para a rua.
Muitas cédulas de R$ 10, R$ 20 e R$ 50 foram danificadas e ficaram em
meio aos escombros. Até o final da noite de ontem a polícia não tinha
estimativa de quanto tinha sido levado do banco. Especula-se que eram
milhões, uma vez que a agência tinha acabado de ser abastecida para a
realização de pagamentos dos servidores do Estado em Macaparana e São
Vicente.
Para manter a população em casa, os criminosos apelaram para a
intimidação pura e simples. Uma estudante de Macaparana, identificada
como Thayná Swift, escreveu em uma rede social que estava com a família
na varanda de casa, quando os bandidos passaram, atirando na direção
deles e mandando todos entrarem.
A doméstica Adriana Porto chegou a ver dois dos criminosos em uma
moto. “Eles tinham armas pesadas”. Várias cápsulas de projéteis de fuzil
foram encontradas pelos moradores.
A população só saiu às ruas na manhã seguinte e relatou os momentos
de pânico. “Atiraram na minha casa. Só consegui me esconder no quarto.
Eram vários tiros seguidos, e depois algumas explosões”, relata o
gesseiro Acácio Freitas.
As marcas da madrugada do terror puderam ser vistas no dia seguinte. O
muro de uma tecelagem próxima ao banco tinha 16 marcas de tiros. Os
bandidos também acertaram lâmpadas dos postes, para dificultar uma
eventual identificação por câmeras. Um dos veículos utilizados foi
queimado ao lado da agência bancária. A primeira suspeita da polícia é
de que os criminosos tenham vindo da Paraíba, cuja divisa com Pernambuco
fica a apenas 10 quilômetros do Centro de Macaparana. Até o final da
noite de ontem, ninguém havia sido preso. A investigação do caso ficará a
cargo da Delegacia de Roubos e Furtos.